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O papel das mulheres na modernização do agronegócio brasileiro passa a ser cada vez mais determinante para a transformação do setor com impacto direto na sustentabilidade e na inovação. Isso é o que mostra a pesquisa inédita “Produtoras rurais e a inovação no campo” apresentada na manhã dessa terça-feira (21), na capital paulista.
Elaborada pela consultoria especializada Quiddity a pedido da Bayer, o estudo lança luz sobre a sensibilidade e a coragem que as produtoras rurais trazem para a gestão.
A pesquisa ouviu produtoras rurais vencedoras do Prêmio Mulheres do Agro, uma iniciativa da Bayer e da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), além de 90 produtores rurais (45 mulheres e 45 homens) de diferentes regiões do Brasil, tipos de atividades e tamanhos de propriedade.
Mais de 80% dos entrevistados reconhecem o papel da mulher no setor, que agrega mais criatividade e questionamento. Rebeca Gharibian, sócia e diretora da Quiddity, resume a filosofia:
Divulgação/Bayer
Rebeca Gharibian (à esq.), da Quiddity, e Marina Menin, da Bayer
“Onde muitos veem descarte, elas enxergam possibilidade. Onde há problema, elas constroem solução. Sempre com um olhar de futuro e de resultados”, diz Gharibian.
O desafio da liderança e o poder da inspiração
Apesar de a influência da mulher no agro ser reconhecida por 93% dos entrevistados, o estudo também revela que o senso de pertencimento e liderança ainda precisa ser fortalecido. Quase 40% das mulheres entrevistadas – mesmo sendo líderes de propriedade – não se veem, na naturalidade, assumindo essas posições de comando.
Quiddity
Quadro da pesquisa que mostra a influência da mulher no campo
A engenheira agrônoma Marina Menin, diretora do Negócio de Carbono da Bayer para a América Latina, vê neste dado um reflexo de uma transição em curso, mas que exige trabalho de empoderamento.
“Muitas vezes, é uma questão de inspiração de exemplo. Se a gente não tem referência, às vezes, a gente acha que nem pode sonhar”, diz.
A construção dessa autoestima e a naturalidade de assumir os negócios familiares é um processo que precisa ser estimulado desde cedo.
As entrevistas qualitativas apontaram que as mulheres que se reconhecem como líderes precisaram de uma “coragem” adicional para assumir o protagonismo, enfrentando desafios como a “síndrome do impostor” ou a resistência implícita, muitas vezes herdada de dinâmicas familiares, segundo Gharibian.
Para ela, a atitude de liderança exige um “tempo e um espaço” de virada de chave, no qual a mulher precisa de coragem para se impor e superar a autoexigência ou a desconfiança, especialmente em sucessões familiares.
“A atitude da mulher que de fato virou aquela chavinha fala assim: ‘não, eu sou a líder e eu tô aqui’”, diz Gharibian.
Sustentabilidade no centro da gestão e da capacitação
A preocupação com o legado, as pessoas e o meio ambiente é a tônica da liderança feminina. Essa sensibilidade se traduz em um alto índice de adesão a práticas de agricultura sustentável e na busca constante por conhecimento.
O estudo mostra que 76% das mulheres destacam a sustentabilidade como prioridade máxima em cursos e palestras. A pesquisa constatou ainda que as cinco práticas mais adotadas em suas propriedades:
- Rotação de culturas (89%)
- Preservação de áreas nativas (87%)
- Plantio direto (82%)
- Uso de bioinsumos (80%)
- Práticas de agricultura regenerativa (80%).
Essa busca por capacitação é fundamental para que as produtoras consigam sustentar seus argumentos e mobilizar o entorno, um ponto ressaltado por Menin.
“Realmente a mulher está preocupada em se capacitar para conseguir fazer seu ponto de vista. E precisamos atuar como sociedade para cada vez mais dar visibilidade para essas mulheres, abrindo espaço e garantindo a oportunidade para elas se posicionarem. Não adianta só na perspectiva de capacitação, se não houver o outro lado do diálogo disposto, de fato, a ouvir.”
Prêmio Mulheres do Agro: visibilidade e conexão
Quiddity
Quadro mostra o poder de redes para a influência entre as mulheres no agro
O engajamento em torno de redes de apoio e reconhecimento é vital para superação feminina e o próprio reconhecimento da mulher como uma liderança mais do possível em propriedades rurais. Neste sentido, o Prêmio Mulheres do Agro surge como um catalisador de visibilidade e inspiração.
Este ano, a premiação está na 8ª edição e atraiu mais de 350 inscritas (aumento de 70% em relação a 2024), com a categoria “Ciência e Pesquisa” registrando um recorde de 250 mil votos na etapa popular. A premiação será realizada nesta quarta-feira no Congresso Nacional das Mulheres do Agro.